1 de nov. de 2010

Tia Soninha morreu.

Há quem diga que ela estava pronta, que tinha chegado a hora, e não havia o que a fazer। Há quem diga que ela foi em paz। Mas será? Sei lá. Sei que ela teve um infarto na última sexta-feira, 29 de outubro. Foi levada para o Hospital de Rio Bonito. Constatada a gravidade, colocada numa ambulância para ser transferida para uma unidade que pudesse atendê-la como a eficiência técnica que o caso exigia, em Niterói. Não deu certo. Teve parada cardíaca dentro dessa ambulância, para o desespero de todos e principalmente de sua filha, Marcela, que ao seu lado assistia a tudo. Reanimada, depois de 20 minutos, retornou ao ponto de partida. O corpo médico do Hospital Darcy Vargas fez o que pôde. Incansável, mas guerreiros sem armas para a batalha. O Hospital Darcy Vargas, reformado, não tem UTI. Mas tem piso de granito. Foram horas de tensão, a família sendo informada que ela não tinha condição de outra tentativa de transferência. E lá ficou, entregue à dedicação de médicos e enfermeiros, às orações de muitos, e à dor de tantos. Não deu certo aqui na terra. Sônia, aos 57 anos, deixou filhos, netos, marido, gente apaixonada, dependente do amor dela, da forma doce, pra cima, pela qual encarava a vida e suas dificuldades. Deixou a nós todos, a família, que a ama. Vamos colocar que realmente era a hora dela, sei lá. Mas fica difícil ter esta certeza se ela não teve a chance de receber os cuidados de que precisava. De ser tratada com as ferramentas que a medicina do século XXI coloca à disposição do cidadão. Aqui mesmo, bem perto, no Hospital Santa Helena, em Cabo Frio, a UTI cardíaca é referência para toda a região. Mas não tivemos como chegar lá. Fica o gosto amargo, o sentimento de incapacidade, de que podíamos ter feito mais. Fica uma família despedaçada. Que a nossa dor seja um alerta: forte, gritante, urgente. Que outras Sônias, também tão amadas, possam receber desta cidade o respeito do poder público, traduzido em eficiência e excelência de serviços médicos. Que o Hospital Darcy Vargas tenha mais do que piso de granito e maquiagem de cena. Que o investimento seja real, no que realmente importa, e onde salva vidas. Navegando pela internet, encontrei bela reportagem sobre a transformação do Hospital Darcy Vargas em referência cardíaca. Mas isso foi no mundo virtual, não é real.