Se queremos alcançar uma compreensão
viva da natureza,
devemos nos tornar tão flexíveis e
móveis quanto a própria natureza.
Goethe
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A
natureza sempre me encantou e sinto que em meio a pandemia e isolamento social
- ela me salvou. Mas que isso, ela me absorveu, nos conectamos, e em um dado
momento o observador se vê observado, e no momento seguinte integrado, uno,
pertencente.
Há
100 dias que observo a natureza diariamente. No primeiro momento como uma forma
de me distanciar da pandemia e me interligar com o belo. Imediatamente percebi
que voltava com o coração em paz e a alma alimentada.
Saia para fotografar, e pela lente,
não da câmera, mas de algo mais profundo, interno, visceral - absorvia toda
aquela fauna e flora de outro lugar. Lembrei da aula da Formação Biográfica
(Juiz de Fora) e percebi que aquele conhecimento adquirido só floriu agora. A
compreensão da observação goethiana se deu de dentro pra fora, longe das
apostilas e livro.
Dia a após dias, a cada registro, ia metamorfoseando em total integração com o ambiente.
Hoje, 11 de junho de 2020, enquanto
observava o voo de um gavião (por duas ou três horas - debruçada sobre o deck
de um parque florestal vazio), tudo foi se distanciando: a câmera, a minha
materialidade, e enquanto mais percebia os detalhes das asas, bico, do mergulho
para pescar, do pouso, da força daquela presença, me senti também observada.
Quem observava quem?
A tal observação esgotou-se. Brota a integração, a harmonia, o pertencimento a esse universo. Essa coabitação perfeita. A sensação é de estarmos todos em casa. Confortavelmente em casa com quem se ama, se respeita e admira.
E esse sensorial foi global (tenho
certeza) para todos nós que estávamos ali naquele momento: flores, água, mata,
gavião, garça, pato, colhereiro, marreco... e sem esquecer dos seres
suprassensíveis.
Escrever sobre essa comunhão, sobre essa
fração do tempo, que não sei precisar de quanto, é uma baita tarefa e longe do
que meu Ser vivenciou.
Voltei pra casa assentada dentro do meu templo.
Senhoras e Senhores, que sensação foi
essa?
A gratidão brotou e as lágrimas
também.
E quanto mais agradecia – voltei
aquela aula da Escola de Juiz de Fora. Mas essa aula eu fiz hoje. E que aula,
meu Deus.