
Não está pronto. Mas está quase.
Cores. Formas. Desejos.
Talvez: desejos –formas – cores.
Está tudo aqui dentro.
É leve. É bom. É sereno. As gavetas que faltam?
Vão esperar.
Não há mais urgência.
Há caminho.
Há desejo. Cores e formas.
A foto, bela. O momento, de transformação, quase renascimento. O efeito pode ter sido causado pelo obturador da câmera mais aberto. Já que quanto mais tempo estiver aberto, mais luz entra. Assim é com o obturador, assim é comigo, assim é com tantos. Quando mais me abro para mim mesma, para tantas possibilidades, mais iluminada me sinto. Portanto, se o obturador que captou tanta luz e beleza, é o da câmera ou da minha alma, ou da sua, ou ainda - a soma de todos nós - não faz muito diferença no resultado final. Fico com a sensação, com a clarividência de um instante, e com a sensação plena que somos energia, luz, células vivas dentro de uma célula maior. E se não é isso ou aquilo, vai se saber. Mas faz diferença? Namastê. (Ju, obrigada).
sabe qual a sua trilha sonora? Seu background? Quais os acordes que abraçam a sua alma e revelam as partituras, ritmos, embalos, fatos, fotos, acontecimentos, momentos? Por mais que tudo mude, a clave de sol tá impressa no seu DNA, não há como separar, escolher outro tom. E quando David Gilmour pega a sua guitarra, me aninho em mim mesma, no meu templo e canto.
Fragmentos. Retalhos. Olhar pra mim neste momento é perceber a quantidade de bagagem que acumulei ao longo da vida. Como guardei coisas, na certeza que sempre teriam o mesmo brilho, a mesma cor, o mesmo prazer. Que necessidade é essa de eternizar um momento qualquer? O que sei hoje – que o eterno é agora. É este momento aqui: em que escrevo, beberico uma amarula, largo a caneta e viro a página.
...que coisa mais difícil essa arrumação. Tantos pedaços, cacos, frações, divisões, perdas... Hora da faxina. Jogar fora. Mudar para mudar. Levo o novo e deixo para traz um rastro: fotos, bilhetes, cartões, CDs, livros, pincel de barba, enfim o cotidiano de uma vida. Fogo, fumaça, vazio. Agora me sinto oca, mas sei que esta sensação é espaço. É janela aberta para tantas possibilidades.
...e lá cheguei. Coração apertado, mas um desejo solto, leve, de não me perder do momento e do caminho que se traça. A luz, o som, a energia...Aquele chão me abraçou. Acolheu-me com a leveza que minha alma pedia e meu corpo necessitava. E o universo respondeu lindamente, usando como instrumento quem ali ensinava, e o mantra da compaixão ecoou pela sala, no meu coração, vibrando em cada respiração. Om mani padme hum.
Quantas faxinas terei que fazer para ver a interna em ordem? Haja tranqueira, gavetas abarrotadas: papéis, revistas velhas, pedaços do tempo em folhas amareladas. Haja coragem para organizar o que está dentro. Haja ânimo para não abandonar a busca. Mas... HÁ RESOLUÇÃO. Há um caminhão de coisas para jogar fora. Há outro caminhão, que vai encostar aqui - daqui a pouco. Transportará móveis, objetos e esperanças. E nessa mudança toda, tenho a certeza que os meus lápis de cores não se perderão. Estarão lá, prontos, e assim pintarei novo caminho.
espelho. A minha coerência está fincada na terra e não no etéreo. Mesmo sabendo que o meu enraizamento é alcançado no etéreo, no respirar profundamente, no me voltar para dentro e não para fora: ali brota o que me move e alicerça.Posturas firmes, definidas, DEFINITIVAS – mas com a suavidade que o universo clama, que busco, e o outro não entende.Mas a compreensão do outro não me cabe. Me cabe, ah...a busca permanente da alegria, nessa fonte, que sou eu mesma. Essa alegria que conduz, me governa e me faz feliz.Mas se o período é guerra – escolho as cores e pinto.