1 de abr. de 2012

Fantasias

Sempre soube que é preciso abrir o guarda-roupa e escolher o traje certo para esse ou aquele ambiente.  Mais que espaço, a roupa certa para o momento certo: festa, missa, casamento, enterro...
Sempre soube, mas nunca fui muito rígida nesse quesito, como em muitos outros. E esse olhar da roupa certa - para momento adequado - pode ter sido ponto de partida. Pq não usar o que se quer em qualquer lugar?
Pensamento pequeno, de criança, pueril, mas como verdade absoluta. E com certeza uma primeira bandeira e também a primeira sonoridade: “essa menina tem cada uma...”
Então ia missa de short, sentava pra brincar na areia com o vestido de domingo e sapato de verniz. Terrrrrrrrrrrrezzza....Então, tá!Assim o meu guarda-roupa tinha poucas vestes e ao longo do tempo percebo que também usava poucas fantasias, apenas a estritamente necessária para não ficar muito aquém do habitual.
Figurino e cenário. Unidade, pra mim. Conflitante para o outro.
Assim fui uma menina no meio de 3 irmãos - que soltava pipa de manhã e brincava de boneca à tarde. E a boneca dormia, sorria, era filhinha e num dia qualquer, era enforcada num bang bang,numa batalha frenética de mocinhos e bandidos, com a corriola da rua.
Essa unidade estava embutida no simples prazer de transitar com a mesma alegria por tantos universos.
Cresci.
Filha, mulher, mãe, trabalhadora, um ser solto, por mais amarras que me rodeavam.
Lembro que quanto filha, dizia, se tiver filhos, assim não farei. Não acertei sempre, mas nos momentos mais duvidosos de mãe, que o natural seria repreender ou proibir, dizia, “não quero isso pra mim”, portanto não quero pra eles. E me pegava viajando no tempo, enrolando pai e mãe para fazer o que desejava. Não! Não é preciso.
Nos erros e acertos, permitir todas as escolhas, com ônus e bônus. Mas sinto que eles sempre tiveram mais o benefício das suas próprias decisões.  Mesmo que eu não achasse o caminho – CAMINHO, era o caminhar deles.
Mas não era o meu. Então na torcida ficava. Vibrava. Orava. Entregava.
Enquanto meninos, fácil. Homens: aprendizados, todos possíveis.
Recentemente me vi na maior tempestade de minha vida, e a última (anota aí). Me vi questionando onde acertei, onde errei, se me arrependendo do meu caminhar ou não?
O turbilhão me sufocou, mas não perdi totalmente o ar. E voltei ao primeiro guarda-roupa, o desejo de usar uma veste e poder viver em qualquer cenário como o mesmo olhar.
E voltei a cada palavra, discurso, que dei como ensinamento para os meus e usei em mim mesma.
Nossa, ir e vir, retorno de todos, cartas ao vento, construção da reconstrução.
Hoje, não me arrependo de ter dado sempre o direito de decisão e de escolha.
Mesmo quando não fui mais escolhida por quem ensinei a escolher e a tomar decisões. Era a escolha dele. Também legítima.
Algo em mim dizia, ele sabe, aprendeu, precisa dessa lacuna, desse distanciamento, está tudo lá dentro.
E está.
Não há mais o que dizer. É ter a sensação que acordamos juntos. Que ontem o tirei do berço e hoje assisto o seu bem viver.
 E saber - que por mais que seja preciso sofrer para crescer e, mais ainda, *para ensinar o outro a andar, o resultado - verdadeiro, real, transparente. Sem teatro, sem sopinha de letras.
Quando é ruim – É MUITO RUIM.
Mas quando é booooooom, é dizer, parabéns, moça, você acreditou, seguiu e escolheu sua veste para estar pronta para qualquer ocasião.
Se me arrependo de algo nessa jornada? Sim, me arrependo. Por mais que toda psicologia diga o contrário: não é bom se arrepender, blá blá blá. Pode ser... pra uns.
Me arrependendo sim, lamento algumas coisas, decisões erradas e carrego tudo isso na bagagem, já sem peso. É minha história. E quem não tem uma cicatriz, não é mesmo?

Agora que esse guarda-roupa lá traz foi um belo ponto de partido, isso foi.
Nunca tive receio de entrar num baile de havaianas, pq meu coração bailava sempre, pra mim e não para o outro.
Agradei a maioria? Aff! Com certeza, não. Nooossssa, não mesmo!!!!!
Mas agrado uma bela minoria e acima de tudo, a mim mesma.