Sim, eu estou doente.
A última década foi de profunda mudança, me virei do avesso
para tentar me ver inteira; e nessa construção - com tantas peças soltas - fui
obrigada a esquecer algumas pra poder seguir.
Mas não adianta deixar cacos na estrada, abandonar aqui e
ali, fingindo que não as vi cair. Estão todas aqui, clamando por seu lugar real.
Será que precisei adoecer pra ver que a luta pela
sobrevivência, a busca insana para dar conta me trouxe a esse precipício onde
corpo grita ferozmente?
Perceber todas as misérias sem cair na vitimização é
trabalho duro e... e já realizado, creio eu.
Diante do espelho a fisionomia cansada, abatida, me faz
abraçar, abraçar forte, a mulher ferida, a menina ativa, o ser em constante
transformação.
Acredito que reconhecer as mazelas físicas, a sua origem, causa
e consequência, me coloca mais próxima da cura.
Árduo caminhar nesse momento.
Mas
tenho também nas vísceras uma esperança juvenil, renovadora, que me faz amar...
amar muito, essa mulher que nesse momento precisa descansar. Tirar férias dos
problemas, da doença, de tantas ausências.
E ausência é o que tenho de mais presente hoje. Sobra falta. Mas há ainda muita gratidão por ter chegado aqui, ter enfrentado um perverso rodamoinho
e ter construído um novo olhar: sobre mim mesmo, a vida, o universo e tantos
mistérios.
A Antroposofia tem sido bussola, mesmo quando não entendo os
ponteiros de imediato.
Bom, ainda estou doente. Ainda.