27 de jan. de 2020

Portas e janelas




Sol entrando na soleira da porta; a vida que passa enquanto espia debruçada na janela; a chuva que pinga lá fora; crianças correndo ao vento; Ah, sempre elas, portas e janelas. 

Fechadas... abrem-se pra dentro: no cheiro de café passado na hora, no abraço, no beijo, no amor que precisa da quietude de uma fechadura silenciosa. 

Aquela frestinha, aquele pedacinho de luz que revela o proibido e acende desejos adormecidos. 

Lacradas: são como prisão, esconderijo, refúgio, solidão ou não. Aquele santo aconchego. 

Escancaradas:refletem no olhar o espetáculo da divina criação. 

E todas guardam de forma quase sagrada - suspiros, alívios, estórias e histórias. Elas, na calmaria do tempo testemunham o viver. 

Portas e janelas, quanta curiosidade despertam, quanto mistério guardam,  nas ruas e avenidas desse mundo afora.





















14 de jan. de 2020

Um dia de cada vez...




Libertador é a palavra desse novo ano que se inicia. 

Deixar esse cabelo branco me emoldurar é resultado da minha escolha mais serena. Estar confortável com a linha tempo, com minha ampulheta, com essa perda da urgência, mesmo quando ainda tenho que correr tanto. 

A mala está mais leve. 

Vai se deixando no caminho o que  não é possível mais carregar, o que perdeu a importância, o que não me pertence mais. 

A dor já não dói tanto. E a alegria repica no coração de uma menina arteira, hoje com 60, mas que ainda adora brincar na rua. O lema: um dia de cada vez.  

Nesse balanço da virada observar a minha biografia é exercer o mais profundo amor e respeito por essa história de vida.  

Ri mais que chorei. 

Abracei mais que empurrei. 

Muitos encontros. Alguns desencontros. E tanto ainda a fazer.  

Como é bom olhar essa rede que foi tecida com muito esmero. E mesmo quando não, o bordado está lá, pra se aprender que se pode escolher outras cores e tecer com mais afeto. 

Costurar essa colcha de retalho é como viver: sublime.

03.12.1959