31 de mai. de 2020

Construção


Essa casa é viva.

Ora, poesia inacabada, escrita (dia a dia) com alegria e ternura. Ora, oficina, marcenaria bruta, sólida, artesanal e resistente as intempéries.

Aqui se planta, se cultiva, se colhe.

Essa casa é casa.
Que abriga, aquece e protege.


Essa casa é como o amor, precisa da poesia para florir; da solidez para se manter; da semeadura para brotar a cada estação.














15 de mai. de 2020

Glocalização



E o dia amanheceu assim: nublado, chuvoso e revigorante.

Perceber a beleza dos detalhes tem me abastecido. Em casa, na mata em frente à minha varanda e dentro de mim - a natureza se mostra pulsante.

 
Tempos difíceis.

Os maus tratos ao planeta nos últimos séculos culminaram nesse ponto crítico em que vivemos.
Nada voltará ao normal novamente. E o novo normal poderá ser a reconstrução e ela passa pelo individuo primeiramente.

Finda o conceito de globalização nos termos que conhecemos e precisa emergir a glocalização.
 
O diálogo entre o global e local deve ser ponto de partida.
Valorização do nosso quintal sem perder a ligação com o universo como célula única.

Minha tarefa. Sua tarefa. Tarefa de todos nós.

 





12 de mai. de 2020

Break (E segue a quarentena)

 


Isolamento social não é fácil. Sou agitada, ativa e com uma rotina exigente. De repente - break.

Busquei o belo.

Observar a natureza da minha pequena varanda, perceber a mudança, as novas espécies de aves que passaram a me visitar tem sido balsamo.

 Quanto mais entediada, mais foto.

Espalhei comedouros pela varanda, janelas e aguardei.

E a dança de tantas asas enfeitou meu dia.

Além dos habituais: cambacica e beija-flor, o gavião caboclo passou a rondar por aqui. Até́ os morceguinhos aproveitaram o banquete.

A natureza é inspiradora em todos os sentidos. E eu sigo agradecendo cada clique, que me tira da ansiedade e me coloca em um estado quase meditativo.

  E assim volto para o trabalho em home office com muito mais produtividade. Assim seja sempre.



  

 

7 de mai. de 2020

Quarentena parte 3 (60 dias)


Meu vizinho adoeceu...

E me vi vulnerável, egoísta, amedrontada. Tão perto, tão do lado. Porta com porta. 

Me vi fazendo uma retrospectiva rápida: estive com ele há dois dias, encontrei na garagem, subi no elevador...

Meu vizinho adoeceu...
Jovem, forte, sarado, de bem com a vida. 
Covid? Covid-19.

Respiração ficou curta de imediato. A MINHA. 
Nariz entupiu. Duvidei do olfato, do paladar, da falta dele.

Silenciei.
Silenciei.
Silenciei.

Sentei-me. 
Escrevi toda essa mediocridade traduzida em medo.

E como está o meu vizinho?
Internado. Lutando. Com boas possibilidades.

Aqui ao lado seguem a esposa e dois filhos pequenos, gêmeos - contidos na legitima aflição.

Eu? 
Me coloquei a disposição para fazer mercado, farmácia, o que precisar.

Meu medo?
Vai bem, obrigada!

Está aqui, amordaçado, contido, a espreita, pronto pra roubar a cena.

E cada vez que ele me diz: Meu vizinho adoeceu...

Respondo: Como está o meu vizinho?



2 de mai. de 2020

Quarentena Parte 2




46 dias de confinamento. 

A vida corre lá fora e observo por uma fresta. Ora a passagem de luz é estreita que beira a escuridão, ora o pequeno facho se faz clarão. 

Assim dia após dia observo, mergulho, afundo, busco ar e me agito nessa imensidão chamada tempo. E nessa mesma agitação repouso na calmaria, deslizo nas asas dos que me visitam diariamente. 


Me espanto delicadamente com o senhor da noite, que exibe tanto mistério. 

Percebo a divindade nas asas aveludadas do morcego, nas cores reluzentes do colibri ou no amarelo solar das cambacicas.



Eles chegam e levam  o que me agitava. O pensar se esvai, esvazio e fico com aquela imagem congelada, que se movimento na minha alma.




Limpo as lentes, fecho os olhos e adormeço. Mas antes agradeço a presença de seres tão pequenos e iluminados. Presença essa que preenche tanta ausência e me recompõe dia a dia.

A natureza me encanta, mas antes me ensina tanto.