Meu vizinho adoeceu...
E me vi vulnerável, egoísta, amedrontada. Tão perto, tão do
lado. Porta com porta.
Me vi fazendo uma retrospectiva rápida: estive com ele há dois dias, encontrei na garagem, subi no elevador...
Meu vizinho adoeceu...
Jovem, forte, sarado, de bem com a vida.
Covid? Covid-19.
Respiração ficou curta de imediato. A MINHA.
Nariz entupiu.
Duvidei do olfato, do paladar, da falta dele.
Silenciei.
Silenciei.
Silenciei.
Sentei-me.
Escrevi toda essa mediocridade traduzida em medo.
E como está o meu vizinho?
Internado. Lutando. Com boas possibilidades.
Aqui ao lado seguem a esposa e dois filhos pequenos, gêmeos -
contidos na legitima aflição.
Eu?
Meu medo?
Vai bem, obrigada!
Está aqui, amordaçado, contido, a espreita, pronto pra roubar
a cena.
E cada vez que ele me diz: Meu vizinho adoeceu...
Respondo: Como está o meu vizinho?