46 dias de confinamento.
A vida corre lá fora e observo por
uma fresta. Ora a passagem de luz é estreita que beira a escuridão, ora o
pequeno facho se faz clarão.
Assim dia após dia observo, mergulho, afundo, busco
ar e me agito nessa imensidão chamada tempo. E nessa mesma agitação repouso na
calmaria, deslizo nas asas dos que me visitam diariamente.
Me espanto delicadamente com o senhor da noite, que exibe tanto mistério.
Percebo a divindade nas asas aveludadas do morcego, nas cores reluzentes do colibri ou no amarelo solar das cambacicas.
Eles chegam e
levam o que me agitava. O pensar se esvai, esvazio e fico com
aquela imagem congelada, que se movimento na minha alma.
Limpo as lentes, fecho os olhos e adormeço. Mas antes agradeço a presença de seres tão pequenos e iluminados. Presença essa que preenche tanta ausência e me recompõe dia a dia.
A natureza me encanta,
mas antes me ensina tanto.